Dia das Mães: Elas abriram mão da própria vida em troca do bem-estar dos filhos

Foto: Rafael Furtado/ Folha de Pernambuco

São três anos desde que uma epidemia de malformação de fetos ocorreu em diversas cidade brasileiras, principalmente no Nordeste do País. Gestantes que contraíram o zika vírus deram à luz bebês portadores de uma síndrome e que apresentaram, entre outros sintomas, microcefalia, lesões oculares, hidrocefalia, crises convulsivas. Os cuidados exigiram dedicação exclusiva e se tornaram as crianças totalmente dependentes de alguém. Já são três anos desde que essas mulheres abriram mão de suas vidas sociais, seus trabalhos, e aceitaram a exaustiva rotina de cuidar de seus filhos. E não se arrependeram.

Vera Lúcia Silva era professora em Escada, na Mata Sul do Estado. Já sabia o que é amar as crianças desde antes de Sofia nascer. Tem jeito com elas. Quando a bebê nasceu, com microcefalia, deixou o trabalho para cuidar dela. “Não posso ir trabalhar e deixá-la com outra pessoa. Vejo o resultado do esforço na evolução dela e sei que estou fazendo a coisa certa. Se eu não me importasse, ela talvez nem estivesse aqui. E, com certeza, não estaria assim, reconhecendo as pessoas, interagindo, rindo. Não precisa mais usar a órtese na mão,a coluna está mais firme.”

A mãe conta que corre atrás do desenvolvimento da minha filha. Antes, eram cinco viagens ao Recife por semana, mas descobriu bons serviços de saúde em Escada e, atualmente, só vai à Capital três vezes por semana. “Na Fundação Altino Ventura, Sofia faz estimulação visual e terapia ocupacional. No Imip, fisioterapia, exercícios respiratórios e piscina. No Hospital Agamenon, tem videofluoroscopia e teste Bera. Faz até sessões de acupuntura em Escada.”

A rotina não se resume a levar Sofia aos serviços de saúde. Em casa, a maior parte do tempo também é para ela. “Sofia é dependente de mim para tudo. A terapia e a estimulação não param. Também saímos muito porque ela gosta de passear, ver o mundo. Vamos ao parque, à lanchonete”, conta. “Fazemos isso tudo com amor. Jamais vou pensar nisso como um fardo.”

Vera sente falta de quase nada do que deixa de fazer para cuidar de Sofia. “Sinto falta apenas de dar mais atenção ao meu filho mais velho. O serviço de psicologia do Imip o atendeu e eu conversei com ele para que entendesse que Sofia precisa mais de mim. Mas eu gostaria de suprir completamente a necessidade dos dois.”

Em Olinda, é Aline Nascimento, 25, que vive para o filho Thalys, de 3 anos. Desde o nascimento do menino, amadureceu muito. “O mundo me mostrou que é cruel, que a gente cai, mas que a gente pode se levantar. Entendi que precisava me aceitar e aceitar meu filho do jeito que somos. Conheço muitas mães que estão entrando em depressão porque ainda não chegaram nessa compreensão. É pressão demais em cima de uma pessoa só.” Ela explica a aceitação: “Muitas têm vergonha. Mas o mundo não parou porque seu filho é assim. Se ele é, você ama do mesmo jeito e aceita. Eu gosto de fazer as coisas por ele. Gosto de fazer a comida, sinto prazer em estimulá-lo.”

Antes de engravidar, Aline saía muito. Tinha uma vida mais agitada. Gostava, especificamente, de ir à praia. Agora, não pode levar sol nem mesmo durante atividades rotineiras porque sempre está com o filho e ele fica com dor de cabeça, com o calor. Aline também parou de trabalhar. Ajudava a mãe a fazer faxinas, mas parou quando Thalys nasceu. “Até para tomar um banho preciso esperar que ela durma ou que meu marido chegue do trabalho, muitas vezes à noite. Ela acompanha o filho de segunda a quinta em apontamentos na Fundação Altino Ventura, na AACD, no Barão de Lucena e no Centro de Reabilitação de Olinda. Aos fins de semana, se reúne com a União de Mães de Anjos (UMA).

“Eu nunca imaginei que minha vida seria assim. E muita coisa mudou para mim, mas falo mais pelo meu filho. Eu o imaginava andando em uma bicicleta, em um andador. Mas nem um carrinho eu posso comprar porque ele não tem firmeza na coluna. O que ajudou muito foi a cadeira que a AACD doou. Ela até deita enquanto passeamos, o que precisa acontecer o tempo todo. Ele fica impaciente se ficar parado.”

Foi do emprego como serviços gerais que Maria de Fátima Souza, 58, abriu mão para cuidar de Pedro. Trabalhava em um hospital e já tinha feito um curso de flebotomia. Aprendeu a tirar o sangue dos pacientes com o objetivo de ser promovida. Mas nada era mais importante que cuidar de Pedro, ou o “copinho de leite”, como ela chama.

“Minha filha tinha 17 anos quando teve ele. Era muito nova para cuidar de uma criança com as necessidades que ele tinha, então eu tomei a responsabilidade para mim. Pedro já fez seis cirurgias, toma remédio controlado para as convulsões”, explicou. “Eu o amo mais até que a minha filha (risos).”

Ela sai de casa em todos os dias úteis para levar Pedro a hospitais e clínicas. Em casa, ela o estimula no tatame, realiza também o estímulo visual, dá banho. Está 24 horas por dia com ele. Até esquece que ele não é filho dela. “Cadê o menino lindo de mamãe?”, pergunta, quando o pega no braço.

Fonte: Folha de Pernambuco

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