China volta a confirmar morte de médico que alertou sobre coronavírus

Divulgação

O médico chinês que alertou colegas sobre o surto de coronavírus morreu, segundo o Hospital Central de Wuhan, onde ele trabalhava e estava internado.

O oftamologista Li Wenliang, de 34 anos, foi infectado pelo novo vírus enquanto atendia pacientes na cidade chinesa que é o epicentro da epidemia.

Ao longo desta quinta-feira (06/02), houve relatos contraditórios sobre sua morte, mas o jornal People's Daily afirma agora que Li morreu às 2h58 do horário local (15h58 no horário de Brasília).

O jornal estatal Global Times foi o primeiro a publicar que o oftamologista havia morrido. O People's Daily, diário do Comitê Central do Partido Comunista, chegou a tuitar que a morte de Li havia provocado "sofrimento nacional".

A notícia foi veiculada por outros meios estatais chineses e internacionais. A Organização Mundial da Saúde (OMS) expressou em sua conta no Twitter tristeza por sua morte.

Mas o Global Times voltou atrás pouco depois e publicou, com base em um relatório do Hospital Central de Wuhan, que o médico havia sofrido uma parada cardíaca às 21h30 do horário local (10h30 do horário de Brasília), sido submetido a procedimentos de ressuscitação e se encontrava em estado crítico.

Jornalistas e médicos locais ouvidos pela BBC e que não querem que seus nomes sejam revelados disseram que o governo chinês interveio após o primeiro anúncio da morte de Li. Os meios de comunicação oficiais teriam sido instruídos a alterar suas reportagens para afirmar que o médico ainda estava sendo tratado.

As notícias de sua morte provocaram uma enorme onda de reação popular no Sina Weibo, o equivalente chinês do Twitter.

Li passou a ser tratado como herói nacional depois de publicar a história de como tentou alertar outros médicos, tornou-se alvo da polícia, para quem ele estaria espalhando "informações falsas", e acabou ficando doente.

Seu relato tornou-se uma evidência da resposta falha das autoridades da cidade durante as primeiras semanas do surto, que já matou mais de 560 pessoas e infectou 28 mil na China.

O que aconteceu?
Li Wenliang trabalhava no centro do surto quando soube de sete casos de infecção por um vírus com sintomas semelhantes aos da Síndrome Respiratória Aguda Grave (Sars), que matou mais de 700 pessoas no início dos anos 2000.

Os pacientes estavam ligados de alguma forma ao mercado de Huanan, em Wuhan, que é considerado o local onde o vírus teria começado a se disseminar. Os sete eram mantidos em quarentena no hospital.

Em 30 de dezembro, ele enviou uma mensagem para colegas médicos em uma conversa em grupo privado alertando sobre o surto e recomendando que eles usassem equipamentos de segurança para evitar a infecção.

O que Li não sabia era que a doença era um tipo completamente novo de coronavírus, uma família de vírus associada a duas epidemias: a Sars e a Mers, ou Síndrome Respiratória do Oriente Médio.

Quatro dias depois do alerta que fez aos colegas, ele recebeu em sua casa a visita de agentes do Escritório de Segurança Pública, que o obrigaram a assinar uma carta.

No documento, ele era acusado de "divulgar informações falsas" que "causaram distúrbios graves à ordem social".

"Nós o alertamos solenemente: se você continuar sendo teimoso, com essa impertinência, e mantiver sua atividade ilegal, será levado à Justiça. Está entendido?". Abaixo, há uma declaração à mão de Li: "Sim, entendi".

Ele foi uma das oito pessoas que a polícia investigou sob acusação de "espalhar boatos".

No fim de janeiro, Li publicou uma cópia da carta no site Weibo, uma espécie de Twitter chinês, relatando o que aconteceu. As autoridades pediram desculpas ao oftalmologista, mas a retratação veio tarde demais.

Ao longo das primeiras semanas de janeiro, autoridades da China insistiam que apenas quem teve contato com animais infectados poderia ficar doente — descartando, portanto, a possibilidade de transmissão de uma pessoa para outra.

Não havia nenhuma orientação para proteger as equipes de saúde.

Uma semana depois de receber visita da polícia, Li estava tratando uma mulher com glaucoma. Mas ele não sabia que a paciente estava infectada com o novo coronavírus e acabou ficando doente também.

Em sua publicação na rede social, ele descreve que em 10 de janeiro começou a tossir, no dia seguinte passou a ter febre e, dois dias depois, foi para o hospital. Seus pais também ficaram doentes e foram internados.

Dez dias depois de ele começar a ter sintomas, em 20 de janeiro, a China declarou emergência por causa do surto.

Li afirma ter sido submetido a diversos exames para determinar se estava com coronavírus, mas todos deram negativo.

Em 30 de janeiro, ele postou novamente: "Hoje, o teste de ácido nucleico voltou com um resultado positivo. A poeira baixou, finalmente fui diagnosticado". Não há informações atualizadas sobre o estado de saúde dele.

Ele colocou em seu post no Weibo o emoji de um cachorro com os olhos revirados e a língua para fora. A mensagem, como esperado, viralizou e passou a receber milhares de comentários e palavras de apoio.

"Li Wenliang é um herói", disse um usuário, preocupado com o que sua história revela sobre o país onde vivem. "No futuro, os médicos terão mais medo de emitir alertas precoces quando encontrarem sinais de doenças infecciosas."

"Um ambiente de saúde pública mais seguro demanda dezenas de milhões de Li Wenliang", escreveu outro.

Em um movimento raro, o Comitê Central do Partido Comunista da China, que comanda o país, admitiu ter errado na resposta ao avanço da doença. "Em razão das falhas, precisamos melhorar nosso sistema nacional de gerenciamento de emergências e melhorar nossas habilidades em lidar com tarefas urgentes e perigosas", afirmou o comunicado.

Fonte: BBC NEWS

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